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sábado, 17 de julho de 2010

O paradoxo da mãe boa e a não existência do inferno medieval

Decidi escrever essa postagem para relembrar minha passagem pelo curso de filosofia, durante a graduação de física, quando cursei a disciplina filosofia da religião.

Um aviso aos leitores. Nessa postagem quero que encarem o que está escrito aqui mais como um exercício de construção lógica do que religiosa. Comentários sempre são bem vindos, desde que respeitem  a opinião aqui apresentada e de outros, pois não tenho a intenção de ofender as crenças e visão de ninguém. Críticas construtivas são sempre bem vinda. Comentários anônimos  não serão aceitos.

O paradoxo da mãe boa e a não existência do inferno do medievo.



Antes de mais nada, o que é um paradoxo?

No google, digitando "define:paradoxo", uma definição que será encontada é:

"Um paradoxo é uma declaração aparentemente verdadeira que leva a uma contradição lógica, ou a uma situação que contradiz a intuição comum..." (pt.wikipedia.org/wiki/Paradoxo)

Antes de apresentar o problema é preciso deixar claro algumas hipóteses.

1 º Existe um Deus justo, bom e que é representado pela expressão "Deus é amor";
2º Ao morrer, a alma de uma pessoa ou irá para o paraíso ou para o inferno;
3º O inferno é um local de tortura eterna;
3º O paraíso é um local de paz e plenitude eterna.
4º  Aos que são bons em vida, suas almas serão enviadas para o paraíso;
5º Aos que fazem o mal e não se arrependem, durante a vida, será condenado ao inferno;

Com essas hipóteses claras, vamos ao paradoxo.

Uma mãe é extremamente caridosa, cheia de amor e compaixão, durante toda vida fez o bem.
Porém, seu filho é extremamente cruel, não respeitava  nada nem a ninguém.
Os dois morrem, mas o filho morreu brutalmente sem tempo de se arrepender de seus atos.
Segundo as hipóteses 4 e 5 a alma da mãe foi para o paraíso e a do filho para o inferno.

A mãe não reencontra o filho, então pensa que o mesmo jamais se arrependeu de sua vida de maldades. Logo ela conclui que a alma  do filho está no inferno.

Se foi considerado que a mãe é boa, pode a mesma ficar em paz e em plenitude eterna sabendo que o filho que tanto amou em vida terá que passar a eternidade em um estado de tortura?

Se a mãe for capaz de ficar tranquila, sabendo da situação do filho, então teremos que admitir que a mesma não era verdadeiramente boa, logo ela não poderá estar no paraíso.
Mas se ela for verdadeiramente boa, então ela irá passar toda a eternidade sofrendo por saber a condição em que seu filho se encontra, assim o paraíso acabaria se tornando um inferno para ela.

Note que se admitirmos que o inferno é na verdade um estado pelo qual a alma deva passar para se redimir dos pecados cometidos, mas por um tempo finito, então as hipóteses de Deu e de paraíso podem se manter como verdadeiras. Do contrário, a existência de um inferno de torturas eternas implica na não existência de um paraíso ou até mesmo de um Deus de amor.

Ou todas as hipóteses apresentadas estão erradas ou o inferno, como fonte de tortura eterna, não existe.
Se bem que um paraíso onde se fica em paz total, sem preocupar-se com nada, só em adoração me parece uma verdadeira tortura. Acho que o melhor caminho para a mãe seria poder ajudar o filho a se redimir, mesmo depois da morte, ou mesmo a ajudar a tantos outros filhos perdidos...

 Até a próxima.